Espiral do consumo
Consumir é utilizar-se de alguma coisa, até o seu final, acabar por completo.
Em sua essência, consumir é
aniquilar, devorar, esgotar. Sim somos devoradores voraz de tudo a nossa volta:
da tecnologia, da cidadania, da diplomacia. Somos consumidores no âmago da
palavra. Vivemos uma espiral do consumo onde dilapidamos nossa terra, exaurimos
nossas águas, extinguimos nosso verde, aniquilamos nossos animais e queremos
sempre mais. Não percebemos, mas somos consumidores de nós mesmo, do nosso
próprio mundo.
Quando trocamos um produto ou serviço por dinheiro, não estamos apenas comprando algo, estamos consumindo tudo o que está por trás daquele produto. Porque para se fazer algo, algo é destruído. Quando vemos um item na vitrine, não imaginamos a longa cadeia industrial deste produto. Apenas desejamos este produto. Se, ao levarmos este produto para casa, toda a transformação da matéria prima, todo o desenvolvimento, toda a fabricação, embalagem e transporte, nos fosse apresentados e tivéssemos que levar pra casa? Interessante, não?! Mas e se todo o rastro de destruição viesse junto? Toda contaminação dos rios, toda a poluição dos ares, todo o resíduo gerado? Seria um grande fardo! Como num passe de mágica, apenas ficamos com o "sapatinho de cristal", "a doce maçã". A vitrine não revela o avesso, não ilumina o caminho da destruição, não te convida à verdade. A vitrine esconde, blinda e cega os olhos de quem se deixa comprar.
No fim, acumulamos o que compramos.
Nos endividamos com o que compramos. E nem sempre utilizamos o que compramos. Quantas
roupas não usadas, quantos sapatos não calçados, viagens perdidas em lágrimas e
dissentimento.
E se todo mundo parasse de consumir? Como o mundo giraria? Como a economia funcionaria? Qual tipo de economia sobreviveria? Surgiria uma nova?
E se todos decidirem usar canudinho de plástico? Atualmente já encontramos vários tipos de canudinhos de inox: reto e torto, com escovinha, com estojinho... uma série de apetrechos. A mesma coisa o copo de silicone dobrável: inúmeras cores, modelos, com alcinha, sem alcinha, com tampa, sem tampa, de 400 ml, de 120 ml... Ao compartilhar um imóvel com pessoas de todos os lugares do mundo deixamos de criar demanda para novos hotéis. Quando deixamos nosso carro na garagem e usamos o compartilhamento de carro diminuímos necessidade de se ter um carro. Quando usamos bicicletas compartilhadas, deixamos de usar o carro, mesmo que compartilhado. Quando decidimos andar à pé, ter horta em casa, nos tornamos quase autossuficientes... e assim caminha a humanidade, consumindo, no real sentido da palavra.
Quase. Afinal, para um elo que se abre, outro se fecha. Quando deixamos de usar um produto, shampoo e condicionador por exemplo, e passamos a optar por algo mais alternativo como o bicabornato e vinagre, as prateleiras se inundam com estes produtos com novas roupagens. A quantidade de tipos diferentes nos supermercados é imensa: vinagre orgânico, sem conservante, sem corante, sem bisfenol A... O bicabornato, ah, este não "goumertizaram". Ainda!
Isto não é um questionamento simples. Porém não comprar, portanto não consumir, nos transforma. Quando percebemos que não precisamos de tudo aquilo que um dia fomos tão presos, nos dá a sensação de controle da nossa vida. Não comprar e não sofrer. Voltar feliz de uma visita ao shopping, de mãos abanando. Esta sensação é de empoderamento. De ser mais forte que os apelos comerciais. De não ser escrava do consumismo. Consumir apenas aquilo que realmente necessitamos para não exaurir. Consumir apenas para sobreviver.
Somos consumidos pelo consumismo. Temos que ter isto ou aquilo. Usar aquilo ou aquilo outro. Pintar as unhas, tingir os cabelos, comprar na Shopee. Nos jornais da TV fomos divididos em quem comeu Morango do Amor (febre atual) e gostou, quem comeu e não achou graça e quem nem se interessou. O Morango do Amor é uma forma de, mais do que amar o consumo, de estar dentro dele, ser parte.
E você, consome para sobreviver ou vive a espiral do consumismo
MARA DÉBORA
Consultora de Estilo Sustentável
Criadora do Guarda-roupa Sustentável
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