sexta-feira, 23 de junho de 2017

Moda: amo ou odeio?

Ilustradora Edgar Artis

Qual o verdadeiro sentido da moda? A moda transcende o vestir. Transcende o ter.

Uma peça da moda pode libertar nosso corpo, mas não deve prender nossa consciência. Temos que ter consciência de que a moda é a segunda indústria que mais polui, mas é também a segunda indústria que mais emprega. A moda pode levar a uma comunidade a esperança de uma nova profissão. Pode libertar as pessoas da pobreza, mas pode também escravizá-los. Pode inserir no ambiente a cultura do reaproveitamento de materiais, como pode também exaurir o próprio ambiente. Pode extinguir uma profissão, mas pode também criar muitas outras. Moda, amo ou odeio? Como equilibrar esta balança?

A moda é para ser pensada, não é o que está na rua, nas revistas. É o que está dentro de você. A moda até se compra, mas não se paga pelo estilo.  Não é toda moda que é para você, não é toda moda que é pra mim. Estilo não é ter tudo o que está na moda ou usar tudo que está na moda ou usar só porque está na moda. O estilo se constrói através da moda.

Não se deve ter a moda como uma justificativa de uma nova compra. A moda nos presenteia com novas possibilidades. Possibilidade de ter uma peça que se comporte no corpo de uma forma ainda não alcançada por nenhuma outra. Que transforma a silhueta, que coloca o volume no local certo, a horizontalidade na altura correta, a verticalidade que alonga e as fendas e os decotes que desvendam o necessário.

Estar na moda é criar a sua imagem, é passar uma mensagem. A moda conta uma história: a sua, a minha, a da humanidade. A moda nos brinda com oportunidades de expressão, opinião, intenção. Secretamente nos desnuda e escandalosamente nos cobre. Tem o poder de ocultar os sentimentos e escancarar a alma (para quem consegue ler o que cada escolha quer dizer).

A moda é "Certo e Errado". Brega ou  estiloso. Out ou In. Mas para mim é tudo isto misturado. O que é errado em um é certo em outro. Ou "esquisito" mas interessante. Ou totalmente "vintage" e não brega, como antigamente. Totalmente in, o que hoje é totalmente out.

Na moda o que não permito é o tal do "tem que ter", "must have", "porque tá na moda". A moda é o que você usa, usa e usa. Ou usa, não usa mais e, depois, usa de novo.


A moda é sua, então use do seu jeito, com sua cara. Porque a minha moda, vai ao meu modo.

Amo ou odeio? A moda do meu modo, amo!


Abra a gaveta e invista na sua moda.
Mara Débora

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Consumo, consumismo, consciência


Tenho levado minha experiencia de não comprar para as pessoas e meu novo jeito de enxergar as roupas. Venho aumentando a consciência e diminuindo o consumo, criando fórmula e extinguindo o consumismo. Venho fechando portas e gavetas e abrindo mentes. 

Ao falar sobre consumo, consumismo e consumo consciente me dei conta que a conscientização é uma grossa camada em nosso coração que impede o cérebro de ser racional no momento de grande prazer. O prazer imediato de uma compra inibe a mente do pensar, raciocinar, da visão de longo prazo, do porquê, do como e do para quê.

Esta camada, se não fortalecida ou até mesmo endurecida, convence nosso cérebro, sabota nossa mente nos fornecendo óbvios porquês, ignorados como e indissolúveis para quê. 

Uma dura camada em nosso coração pesa em nosso sentimento, entristece nossa alma e cala nossa voz. Uma  camada que vela e impede a transparência da nossa lucidez. 

Esta densa camada nos transforma em adquirentes. Consumidores do tempo alheio, pagadores do suor impertinente, apropriadores de vidas indevidas.

Não existem roupas baratas. O que há são trabalhadores mal remunerados. O que existe é a servidão por dívida. Se alegramos nossos corações com os baixos preços, sangramos vidas escravizadas pela moda rápida e fútil. Pergunto-me: como ter prazer neste consumo?

Conscientizar-se é endurecer nosso prazer pelo consumismo e abrandar o sofrimento de quem faz o que consumimos. Conscientizar-se é consumir apenas o necessário..."o extraordinário é demais!"

O consumismo passa distante da sua necessidade, se aloja no seu desejo e se disfarça na sua imagem.

O consumo consciente nos torna mais que consumidores, nos torna senhores do destino (daquilo que compramos): pesquisamos de onde vem uma peça e averiguamos para onde vai ao desapega-la. O destino de uma peça, seja da sua origem ao seu descarte está em nossas mãos (e carteira). 

O consumismo consome nosso planeta, cega nossa alma, endurece nosso coração.
O consumo nos torna leal à nossa conveniência.
A consciência nos torna humanos.

Abra a gaveta, vista-se mais, consuma menos!
Mara Débora