Quero entrar na quarentena da quarentena, isolar-me do isolamento, distanciar-me do distanciamento. Quero me contaminar de mim mesma.
O novo transformou o normal e o novo normal me assusta.
Perco meu sono depois de dias sem saber que dia é.
Perco meu sono depois de dias sem saber que dia é.
Perco minha fome enquanto muitos de fome clamam em "Vakinhas".
Onde está a justiça? Se demitiu! E o que sobrou são mentiras.
Máscaras caíram, contaminadas pelo vírus da vaidade. Não há verdade num país que está acima de todos sem nunca ter sido a terra que acolhe, o mar que protege, o povo que se orgulha.
Estamos sem ar! Não há respiradores para todos.
Constrói-se leitos para que os eleitos novamente se deleitem com os direitos emergenciais.
Não há crime perfeito, há pleitos desfeitos e destrezas defesas nos altos tribunais. Mas são as rasas valas que aguardam o mais perfeito do direito de ser mais um a disputar um leito.
A fome não espera. O medo não congela. A angústia não se afasta. Não há pronunciamento que cale a humanidade desfeita. Somos um perfil feliz em uma timeline desfigurada, procurando um batom para mudar a cara de quem ainda não encara, não encarna, não escancara a dor de um país desgovernado e
um mundo desglobalizado.
um mundo desglobalizado.
Mas eis que ressurge um planeta, que regenera mais rápido que sua própria criação. Que ousa ocupar o espaço que outrora era dono, que torna translúcido o que insistiam em deslumbrar, sobre gôndolas, o lodo da poluição. Eis que surge o gorjeio dos pássaros e a beleza dos céus, hoje, mais estrelados, que ontem, menos que amanhã.
Sim, amanhã! O que será o amanhã? O planeta pede socorro, precisa seguir adiante. E nós? Nós estamos somente de passagem.
Passagem pela quarentena.