quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Nó ou laço?


Estamos sempre nos conectando às pessoas, aos lugares, às coisas. Porém, muitas vezes não distinguimos bem que tipo de conexão fazemos. Algumas nos trazem alegria, suavidade, contentamento. Outras, ao contrário, nos embaraçam. 

Unir pensamentos e sentimentos nos leva a refletir melhor sobre qualquer assunto. Mas, se os misturamos, sentimentos e pensamentos, nos tornamos cúmplices de uma história, na sua maioria, sem um final feliz. 

Muitas vezes nos prendemos ou nos deixamos prender, e esta ligação se torna uma amarra. Amarrados nos tornamos presas. E presos nos tornamos reféns. Reféns dos nossos próprios pensamentos, capazes de julgar até nossos próprios julgamentos. 

E presos, um ao outro, não vamos muito longe. A caminhada se torna difícil e lenta. E, obrigados a manter-nos lado a lado, não discernimos mais sobre quem somos e quem o outro é.

E nesta relação, o maior paradoxo é a distância que nos aproxima e a proximidade que nos afasta. 

Quando estamos distantes, a saudade evoca lágrimas, mas também nos acarinha, revive emoções,  rememora alegres momentos e comemora o reencontro.

Quando estamos próximos, a intimidade mirra a polidez, a constância nos cega, a rotina nos fadiga impedindo novas descoberta, não criando expectativas. 

Podemos estar unido de duas formas, e a escolha é somente sua. Podemos estar atados com um laço ou presos a um nó.

O laço se enlaça, dá voltas, percorre solto por todas as amarras. Possui dois lados que atuam independente, mas que são extremamente dependentes entre si. 

Se um lado do laço se esvair totalmente o outro se desfaz completamente, gentilmente.  Porém, se um lado se agigantar por demais, o outra se desmancha, deixando para trás seu outro lado, solitário e rendido. 

Cada laço tem dois pontos de tensão. Se puxado de um lado, desliza suavemente podendo se igualar lado a lado, porém se avantajar seu tamanho, perderá seu enlace e se penderá solitariamente.  Se puxado pelo outro lado, seu nó se estreita e, não só, o estrangula, como sufoca seu outro lado não o permitindo se ajustar ao seu próprio ser. 

Para o laço se aformosear, mesmo que atados, deslizam sobre seu próprio e uno nó, sem uma única vez pressionar, prensar, atar. Porém, é preciso ajustá-lo sempre, de um lado e do outro, nem muito preso, nem muito frouxo.

O nó é dado para manter seguro e próximo aquilo que mais damos valor. Nos enredamos em volta, nos enlaçamos, nos envolvemos. Mas, muitas vezes, sem perceber, nos enrolamos, enroscamos e nos prendemos.

O nó, tem uma triste particularidade, se entrecruza em si mesmo e por si mesmo se sufoca, se deforma. Mas é seu nó que une duas pontas, mesmo que para isto, use contrárias forças. Quanto mais distende, mais se enclausura. E quanto mais fechado, mais rijo se torna. E quanto mais resistente, mais difícil torna-se seu desenlace. 

E depois de muito esticado e esgarçado, combalido da batalha, se entrega ao seu entrelaçamento: o corte, o rompimento. E depois de rompidos, tornam-se novamente extremidades, dois vértices, dois fins. Entretanto, voltam a ser duas livres pontas, sem amarras, sem ligames, que livremente podem se unir, entrelaçarem novamente num lindo e colorido laço, sem nó ou desembaraço.

Como é a sua relação, um nó ou um laço?

Texto de Mara Débora
Abra a gaveta e compartilhe.

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

CURSO DE DESIGN DE MODA RECEBE MARA DEBORA PARA PALESTRA NA UNIVAP


A convite da coordenadora do curso, Rachel Cordeiro, a consultora de estilo sustentável, Mara Débora, proferiu palestra a cerca de 80 pessoas, entre alunos e convidados, no auditório da Comunicação na Univap Urbanova, na última quinta-feira.
A apresentação de 60 minutos sobre "Moda Sustentável" abordou temas como o consumo consciente, o descarte do lixo, o novo público que surge com um olhar sobre a sustentabilidade na moda, a poluição causada pela indústria da fast fashion, a origem do Movimento Mundial Fashion Revolution, a Moda Abolicionista e o Guarda-roupa Sustentável, metodologia desenvolvida por Mara Débora.
A palestra gerou questionamentos do público, como: "O que seria uma boa opção de descarte das roupas?", "Os homens não se interessam por sustentabilidade, por isso você se dirige mais às mulheres?", "Qual a solução para reduzir o consumo e reaproveitar o que já existe?", "A moda Brechó seria uma opção para a Moda Sustentável?", "Mas como atingir as pessoas céticas quanto à sustentabilidade e como lidar com o cliente nesse aspecto?", dentre outros comentários dos alunos presentes.
Para Tamires Vanella, de 22 anos (na foto com Mara), a palestra abriu caminhos para o seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), especialmente a abordagem da Moda Abolicionista: "Isso reafirmou a minha escolha do brechó como tema do TCC, se desprender dos padrões estabelecidos e enxergar maiores possibilidades", afirmou a estudante que há dois anos entrou na "vibe do vegetarianismo".
Outro estudante, Alan, de 27 anos, vai utilizar a Declaração de Direitos da Moda Abolicionista, de autoria de Mara Débora, como citação em seu TCC.
A palestrante, que também é blogueira (Autoestima na gaveta) e está escrevendo o livro "Estilo sustentável" (em fase de finalização), ficou muito feliz com o interesse demonstrado pelos alunos e pelo alcance do objetivo do convite para a palestra: mostrar a esse público que a moda vai muito além do glamour!

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Moda Abolicionista - O que conquistamos?


A moda abolicionista nos faz refletir também sobre o que conquistamos no momento em que nos libertamos. Não é só o fato de deixar de usar ou adquirir algo. Conquistamos o direito de escolha. E estes novos critérios são os mais variados: por ser mais natural, ecológico, sustentável, sem crueldade animal...

Entretanto o primeiro passo é estar predisposto a esta mudança. O que eu mais eu ouço é: não consigo viver sem isso, não me imagino sem aquilo, como vou sobreviver sem isto? Minha resposta é simples: no momento em que você se liberta de algo, solta as amarras dos padrões, um universo se abre.

Imagine um universo se abrindo na sua frente! Novas possibilidades, descobertas. Novos sabores, novas texturas. Novas formas, novas fórmulas. Um mundo encoberto com a sua teimosia em dizer que não consegue viver sem isto, isso ou aquilo. Abra os olhos, abra os sentidos. Sua escolha pode parece solitária, mas acredite, a caminhada é cheia de novos amigos. Tem muita gente seguindo o mesmo caminho. E com muita vontade de compartilhar experiências. Mas, como se manter na trajetória? Afinal, são muitas as armadilhas. Nem todo mundo está no mesmo passo.

O tempo todo reforço para mim mesma que sou mais forte do aquilo que me prende. Como pode um hábito me subjugar? Eu não me rendo. Assim foi quando deixei de ingerir leite e seus derivados. Pensei: como ficarei sem café com leite? Sem meu queijo? Sem meu pão de queijo? (note que quem escreve é mineira). Passar por uma privação é aterrorizante. E, como em toda situação de stress ou quando se coloca diante de um problema, este, adquire o tamanho que você decide dar para ele. 

Sempre encaro meus problemas como possibilidade de novas soluções. Não tomar leite me fez criar, inventar, buscar várias alternativas. Além disto resultou em um encontro, uma descoberta sobre mim mesma. Descobri que sobrevivo sem leite no café, não é demais? E se eu posso você também pode, isto e muito mais. Não morremos quando deixamos de fazer algo (única exceção é respirar, não tente isto agora, rs). Ao deixar de comer laticínio fui apresentada a várias outras alternativas: no café da manhã uso de creme de tofú, abacate com sal no pão, tahine puro, tahine com mel, geleia de frutas da estação. Nos pratos salgados uso o creme de tofú como creme de leite. Para o molho bechamel, o leite de aveia. Para o pão de queijo, adivinha: tofú. 

Quando imaginaria uma lasanha ou uma pizza sem muçarela? Não só imagino como devoro. O queijo rouba o sabor de todos os outros alimentos. Para os pratos doces fui apresentada à tantos novos personagens: aquafaba, biomassa, inhame. E mergulho de cabeça nos leites de vegetais.

Tantas possibilidades! Hoje meu questionamento é porque fiquei tanto tempo presa a um alimento que me fazia tão mal? Por que usar um alimento que não foi feito para nosso corpo e extraído de uma forma tão dolorosa? Sinto-me liberta e ponho em liberdade o animal que  forçosamente nos fornece SEU alimento.  

O mesmo ocorre com a carne. Quantas vezes ouvi ser impossível parar de comer carne, parar de sentir aquele gostinho da gordura. Quando me perguntam o que eu como, minha resposta é: - tirando o que é animal, todo o resto. E acredite, é um mundo de alimentos que temos para comer além do boi, peixe, frango e porco. Hoje meu prato é muito mais variado do que quando comia carne. Muito mais colorido, mais saboroso, mais nutritivo e criativo. Estou sempre inventando receitas, buscando novidades. Mas mais do que receitas, aprendemos sobre as propriedades dos alimentos. E, além das informações, criamos uma rede de amigos, de pessoas interessadas em fazer uso dos alimentos como remédio e não como veneno para nosso corpo. Nos libertamos do sódio, dos nitritos, dos nitratos e dos conservantes e conquistamos mais saúde!

Com a moda abolicionista conquistamos a liberdade de escolha. Conquistamos um universo de possibilidades. Colhemos frutos de nossa própria necessidade.

E você? Do que se libertou e o que conquistou?

Texto sobre Moda Abolicionista de Mara Débora

Abras as gavetas e compartilhe! 

Foto: internet

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Moda Abolicionista - Prazer que aprisiona!




Você segue padrões? 
Está presa a algum hábito? 
A moda te escraviza?

Estes questionamentos me fizeram refletir sobre por que nos prendemos a padrões? Por que temos que espelhar em alguém ou em algo. Por que temos dificuldade em mirar nosso espelho e absorver nossa própria imagem?

No momento que me vi livre de um hábito, percebi que havia criado uma nova moda: a Moda Abolicionista(já falado aqui) . Um paradoxo, afinal, seria algo a ser seguido - "Para um elo que se abre, há outro que se fecha". E nesta corrente que é a vida, o prazer será sempre o elo que une a ação ao objetivo final. Como em uma corrida, em que, entre o primeiro e o ultimo passo, o que nos motiva é endorfina, o que recompensa é a serotonina e o que seduz é a dopamina. 

Não há prazer se não há recompensa. O que nos prende a um hábito é a certeza em que ele nos transforma. A desejada euforia nos leva a refazer, fazer novamente e de novo fazer aquilo que há pouco foi feito.

A este elo viciante nos lançamos e, inconscientemente, como num filme de Almodavar, imploramos: ata-me! 

E, assim, por muito tempo seguimos, inicialmente inebriados, por fim cegos, surdos e alienados. 

E de repente subjugados a referências, tendências, modelos, contextos, esterótipos, arquétipos, protótipos, paradigmas, paradoxos, esquemas!

Somos presos e nos tornamos presas. Reféns de uma imagem qualquer, que não a nossa, que não verdadeira, porém fundamentada, jurada da mais vil recompensa: a imagem irreal da imagem retocada. 

Quantas de nós não compramos uma imagem em forma de roupa, uma silhueta incorporada em um vestido, um status por detrás de uma marca?

E como não falar do padecimento em cima de um salto, do sufocamento de um justo traje, do congelamento de um longo de alça?

São prazeres que aprisionam! E como libertar desta tirania?

Declaro, então, a Moda Abolicionista!

Declaração dos Direitos da Moda Abolicionista 

É direito de todos:
- Buscar pelo prazer que liberta.

- Abster-se daquilo que aprisiona, que torna obrigação e não promove contentamento.

- Criar padrão de beleza próprio e transformar o olhar.

- Encorajar-se para reverenciar ao próprio julgamento e silenciar opiniões alheias.

- Amar o que é intrínseco e recusar o extrínseco.

- Vestir a essência, contudo, calçar a decência.


- Desfilar somente a sua essência.

Se esta é sua bandeira, levante-a. 

Texto Moda Abolicionista - Prazer que aprisiona por Mara Débora.

Foto: Scarleth-Marie-licence-Creative-Commons


terça-feira, 8 de agosto de 2017

Moda Abolicionista - Reflexão sobre o prazer!

foto internet 

Quando nos tornamos adultos passamos a ter direito a usar coisas que antes não podíamos. Quantas vezes ouvi: Isso é de adulto, quando ficar mais velha pode usar! Quis tanto envelhecer nestes momentos! 

E, então, chegou o momento e imediatamente eu me coloquei a usar tudo aquilo que era "proibido para menores": ostentei sutiã, vestido justo, saia curta, salto alto. Passei esmalte, maquiagem, batom vermelho. Cortei, alisei, pintei os cabelos. E, sem muito pensar, entrei na onda de "tenho que ter" tal roupa, sapato, sandália, bolsa. Foi assim que entrei na roda do padrão a seguir. E como foi difícil sair desta roda (não tenho certeza se saí totalmente). Quantas roupas usei somente porque "está usando". Quantas peças comprei só porque "está na moda". Quantas besteiras fiz só para seguir padrões!

Hoje, vejo como fui escrava da moda! Foram tantas agressões à mim mesma: o cabelo liso, os pelos do corpo descoloridos, as pernas, axilas e virilhas depiladas, o corpo magro, a cor bronzeada, a roupa do momento. Algumas por prazer, outras imposição, outras insipiência. Presa por desconhecimento. Presa por um nó premido e adornado com um lindo laço. Entretanto, pouco a pouco, o fui desatando, me libertando.

Mas a libertação é lenta! Demora o tempo da maturidade. Lapidamos nossos questionamentos, costuramos nossos lamentos, priorizamos nossa essência. Pensamentos maturados, pois damos ao tempo, tempo para amadurecer. Todavia, nos permitimos a meninez.

A libertação é eterna. Para um elo que se abre há outro que se fecha. Ao nos soltar de um hábito, nos prendemos a outro. Ao deixar de seguir um padrão, adotamos outro. Ao não seguir a moda, ditamos a nossa própria moda.

O arbítrio de olhar para si, soltar as amarras, amar a cara lavada não é fácil. Não é fácil se enxergar em um espelho que reflete a sociedade ditadora. Não é fácil caminhar sobre o salto da vaidade, respirar sob a armadura talhada em cada dobra. 

Assim é a moda - aperta, machuca, fere, contudo enfeita, enlaça, encanta, regala, enquanto disfarça, dissimula, simula o que pensa, o que busca, o que pretende um dia ser.

Na moda tornamo-nos no que não somos, parecemos o que queremos, escondemos o que dispomos, mostramos o que não temos e idolatramos o que não podemos.

No entanto a moda possibilita, encanta, investe. Veste, reverte, aplica. A moda lança, dissemina, emplaca. A moda grita, a moda cala! O que tá na moda é não seguir a moda. Mesmo não querendo, a moda dita a moda.

E quão libertador é descobrir que não faz a menor diferença se renunciarmos à moda, aos hábitos, aos padrões! Porém quão desolador é descobrir que, de alguns, somos (sou) prisioneiras.

Não obstante, alguns nos dão prazer e, só por estes, devemos nos render, nos tornar prisioneiras. Afinal, o prazer também aprisiona.

Qual prazer te aprisiona?
Depilar, maquiar, pintar, alisar, massagear, clarear, bronzear, malhar?

Texto sobre Moda Abolicionista - Reflexão sobre o prazer!
por Mara Débora


segunda-feira, 31 de julho de 2017

Moda Abolicionista

Por que somos tão presos à moda? Hoje quero propor uma nova tendência (olha aí um paradoxo): a Moda Abolicionista. Por que temos que seguir uma moda? Sim, por mais que você ou eu falemos que não seguimos moda, alguns hábitos seguimos, sejam eles de beleza ou saúde, educação ou política. Seguimos padrões muitas vezes sem questionar, muitas vezes até mesmo sem sentir. Principalmente porque estes "ritos" já foram incorporados na nossa vida. E sim, confesso, alguns não consigo extirpá-los da minha vida. 

E que hábitos são estes?  E que moda é esta? É uma moda silenciosa, que acreditamos que devemos seguir. São hábitos femininos (e tem os masculinos também) que se tornaram "obrigação". São hábitos que nos escravizaram e que nos tornamos reféns. Hábitos que muitos catequizam seu uso e não pensam nas suas consequências, não pensam no rastro que deixam. Mas o melhor foi descobrir que não faz a menor diferença se não os seguimos.

Peguei-me pensando nisto quando estava preparando uma lista de coisas a fazer para uma pequena viagem. Falei com meu marido: "Lista do homem quando vai viajar: arrumar o carro (se for de carro) e arrumar a mala. Lista da mulher quando vai viajar: fazer pé e mão, pintar o cabelo, cortar o cabelo, depilar, fazer sobrancelha e arrumar a mala (isto muitas vezes inclui comprar roupas novas)". 

Meu marido, por sua vez, me propôs o seguinte desafio: por que não deixa de fazer estas coisas e arruma somente a mala? Confesso que tentei. Não fiz sobrancelha e não fiz as unhas. Estes dois, dá para ficar sem, mas depilar e pintar o cabelo ainda me mantenho refém. Foi libertador entender que realmente não precisamos estar presas a certas coisas. Claro que para cada mulher a libertação é diferente. 

Então, mulheres, por que não pensarmos de qual moda podemos nos libertar? Sigamos a moda abolicionista! Livre-se daquilo que inconscientemente você usa, veste, segue somente porque não pensa a respeito! Usa ou faz porque "é assim". 

Vamos rodar a roda para o outro lado, vamos girar o mundo ao contrário! Qual a moda de que você quer se libertar? 

Fiz uma lista da moda que eu penso não faz nenhum sentido ser escrava. Faça a sua também!


Passar esmalte nas unhas
Meu Deus!!! Como é libertador não ter que fazer as unhas toda semana. Escolher a cor do esmalte. Passar um esmalte num dia e dois dias depois perceber que ele está "lascando". 

Comecei primeiro não mudando de cor: usava só preto. Combinava com tudo (sim tem que combinar também). E quando lascava o esmalte, tinha o esmalte preto na minha necessaire para cobrir. Até o momento que pensei: Por que ficar presa a um hábito tão fútil? 

Devemos, sim, manter as unhas limpas e aparadas. Podemos sim, fazer as unhas, ir à manicure. Mas por que diabos temos que colorir nossas unhas? Minhas unhas ficaram tão bonitas e saudáveis depois que deixei de usar esmalte. Sem manchas, hidratadas. Como é linda a cor natural das unhas. Quero me livrar do alicate!  Quanto mais tiramos a cutícula, mais ficamos presa ao alicate!  Instrumento torturante!!! 

E sabe o que mais? Não passar esmalte não fez a menor diferença na minha vida, nas minhas relações, na minha profissão. Ninguém reparou (ou comentou) que não uso mais esmalte. Não me reprovaram! Não acharam que era o meu fim! Como isto foi libertador!!!

Entretanto, existem ainda outros motivos para deixar de usar esmalte: seus malefícios ao meio ambiente e à saúde. O esmalte possui formol, plástico e corantes. Basta pesquisar na internet para ver o rastro de destruição deste item de vaidade das mulheres: (fonte de pesquisa e-cycle):


Solventes: Acetato etílico ou butílicoToluenoÁlcool sopropílicoDibutilftalatoFormaldeído ou formol:efeito tóxico no ambiente aquático, cancerígenos, causa alergia, irritação à pele, irritabilidade

Resinas: Nitrocelulosedermatite de contato

Plastificantes: Cânfora, Copolímero de etileno, Polimetilacrilato, Esteralcônio de hectorita, Poliuretano

Corantes e pigmentos:  diversas fontes orgânicas ou inorgânicas ou produzidos sinteticamente. 



Este foi um hábito de que me tornei livre! Nos próximos posts falarei de outros hábitos escravagistas que podemos nos libertar e o porquê !

Moda Abolicionista - texto de Mara Débora

sexta-feira, 21 de julho de 2017

"Mea-culpa":Tenho muita roupa!

Você já parou para contar quantas peças de roupa e sapatos possui? Experimente e irá se surpreender!

No meu livro Estilo Sustentável - Tenho o suficiente! há um capítulo onde dou o passo a passo para este "inventário". Como há bastante tempo eu já estava neste processo de não comprar roupas, não quantifiquei o meu guarda-roupa. (Talvez, até, por medo da verdade, confesso!) 

Pois ontem, um dia frio de inverno, tentando me recuperar de um resfriado, resolvi fazer isto - e, lógico, piorei tanto do resfriado quanto psicologicamente. Meu Deus, quanta roupa eu tenho! 

Comecei retirando tudo dos meus armários, espalhando na cama e pelo chão, juntando as peças por - como chamo no livro - similaridade: calças jeans, calças pretas, calças de tecido, calças de malha; blusas de malha, de tecido; camisas; saias longas, saias curtas... e assim fui contando.


Bom... minha lista ficou assim:


Saia longa ..............
Saia curta ...............
Calça Jeans..............8
Calça tecido...........11
Short......................11
Bermuda..................2

Camisa...................20
Blusa tecido...........18
Blusa malha...........42
Blusa linha...............2

Macacao curto.........
Macacao longo........
Vestido...................20
Vestido Festa...........3

Casaco....................23
Blusa lã....................9
Total roupas........201

(não inclusas roupas de academia, blusas de eventos e de dormir)


Sandália................12

Sapato....................6
Sapatilha................3
Tênis......................5
Bota.......................3
Chinelo..................4
Total sapatos.......33

Bolsa pequena ......10
Bolsa.......................7
Total.......................17


 Você deve estar pensando: não é ela que fala em ter 20 peças no armário, incluindo 4 sapatos? Como ela pode ter 201 peças, 33 sapatos e 17 bolsas?!? 
Sempre falei que o Guarda-roupa Sustentável (GrS) é uma metodologia para se conscientizar de que com poucas peças é possível se vestir bem e, como consequência, diminuir a ansiedade por compras. Em todo este tempo que venho praticando o GrS, devo ter comprado no máximo umas 5 peças novas (nem um sapato sequer!), algumas peças usadas, além de ter feito muitas trocas. Outro ponto em que insisto bastante nas palestras e consultorias que dou, é para que as pessoas não se desfaçam do restante das suas peças: dê um tempo, coloque em malas, caixas, deixe-as menos visíveis até o momento de troca do grupo do GrS, afinal, a cada estação você deve trocar suas peças.

Falando sobre GrS, vamos fazer o exercício de contar quantos anos eu precisaria para usar todas estas roupas do meu inventário. Vamos lá, peguem a calculadora!!!

Primeiro vamos separar as peças em parte de cima,parte de baixopeça única e calçados:

Partes de cima: ........64

Partes de baixo: .......42
Peça única: ..............27

Calçados: ................33



Agora, vamos fazer a conta das combinações (parte de cima + parte de baixo) matematicamente possíveis:


64 Partes de cima x  42 Partes de baixo = 2.688 combinações 
(vou escrever por extenso para não haver dúvidas: duas mil, seiscentos e oitenta e oito combinações).

Vamos passar para o cálculo dos looks (parte de cima + parte de baixo + calçado) matematicamente possíveis:

2.688 Combinações x 33 Calçados = SubTotal de 88.704 looks 
27 Peças únicas x 33 Calçados = SubTotal de 891 looks 
88.704 looks  +  891 looks = Total de 89.595 looks 
(por extenso para chocar mesmo e não haver dúvidas: oitenta e nove mil, quinhentos e noventa e cinco looks)



Quantos anos, décadas ou centenas de anos precisarei viver para usar tudo isto? Basta fazer o seguinte cálculo:
88.704 looks / 365 dias = 243 anos e 2 meses


Será que eu preciso comprar mais alguma peça?

E você, será que não tem o suficiente?

Olhe para o seu armário ao invés de olhar vitrines.
Abra a gaveta antes de abrir a carteira.

Mara Débora 


sexta-feira, 23 de junho de 2017

Moda: amo ou odeio?

Ilustradora Edgar Artis

Qual o verdadeiro sentido da moda? A moda transcende o vestir. Transcende o ter.

Uma peça da moda pode libertar nosso corpo, mas não deve prender nossa consciência. Temos que ter consciência de que a moda é a segunda indústria que mais polui, mas é também a segunda indústria que mais emprega. A moda pode levar a uma comunidade a esperança de uma nova profissão. Pode libertar as pessoas da pobreza, mas pode também escravizá-los. Pode inserir no ambiente a cultura do reaproveitamento de materiais, como pode também exaurir o próprio ambiente. Pode extinguir uma profissão, mas pode também criar muitas outras. Moda, amo ou odeio? Como equilibrar esta balança?

A moda é para ser pensada, não é o que está na rua, nas revistas. É o que está dentro de você. A moda até se compra, mas não se paga pelo estilo.  Não é toda moda que é para você, não é toda moda que é pra mim. Estilo não é ter tudo o que está na moda ou usar tudo que está na moda ou usar só porque está na moda. O estilo se constrói através da moda.

Não se deve ter a moda como uma justificativa de uma nova compra. A moda nos presenteia com novas possibilidades. Possibilidade de ter uma peça que se comporte no corpo de uma forma ainda não alcançada por nenhuma outra. Que transforma a silhueta, que coloca o volume no local certo, a horizontalidade na altura correta, a verticalidade que alonga e as fendas e os decotes que desvendam o necessário.

Estar na moda é criar a sua imagem, é passar uma mensagem. A moda conta uma história: a sua, a minha, a da humanidade. A moda nos brinda com oportunidades de expressão, opinião, intenção. Secretamente nos desnuda e escandalosamente nos cobre. Tem o poder de ocultar os sentimentos e escancarar a alma (para quem consegue ler o que cada escolha quer dizer).

A moda é "Certo e Errado". Brega ou  estiloso. Out ou In. Mas para mim é tudo isto misturado. O que é errado em um é certo em outro. Ou "esquisito" mas interessante. Ou totalmente "vintage" e não brega, como antigamente. Totalmente in, o que hoje é totalmente out.

Na moda o que não permito é o tal do "tem que ter", "must have", "porque tá na moda". A moda é o que você usa, usa e usa. Ou usa, não usa mais e, depois, usa de novo.


A moda é sua, então use do seu jeito, com sua cara. Porque a minha moda, vai ao meu modo.

Amo ou odeio? A moda do meu modo, amo!


Abra a gaveta e invista na sua moda.
Mara Débora

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Consumo, consumismo, consciência


Tenho levado minha experiencia de não comprar para as pessoas e meu novo jeito de enxergar as roupas. Venho aumentando a consciência e diminuindo o consumo, criando fórmula e extinguindo o consumismo. Venho fechando portas e gavetas e abrindo mentes. 

Ao falar sobre consumo, consumismo e consumo consciente me dei conta que a conscientização é uma grossa camada em nosso coração que impede o cérebro de ser racional no momento de grande prazer. O prazer imediato de uma compra inibe a mente do pensar, raciocinar, da visão de longo prazo, do porquê, do como e do para quê.

Esta camada, se não fortalecida ou até mesmo endurecida, convence nosso cérebro, sabota nossa mente nos fornecendo óbvios porquês, ignorados como e indissolúveis para quê. 

Uma dura camada em nosso coração pesa em nosso sentimento, entristece nossa alma e cala nossa voz. Uma  camada que vela e impede a transparência da nossa lucidez. 

Esta densa camada nos transforma em adquirentes. Consumidores do tempo alheio, pagadores do suor impertinente, apropriadores de vidas indevidas.

Não existem roupas baratas. O que há são trabalhadores mal remunerados. O que existe é a servidão por dívida. Se alegramos nossos corações com os baixos preços, sangramos vidas escravizadas pela moda rápida e fútil. Pergunto-me: como ter prazer neste consumo?

Conscientizar-se é endurecer nosso prazer pelo consumismo e abrandar o sofrimento de quem faz o que consumimos. Conscientizar-se é consumir apenas o necessário..."o extraordinário é demais!"

O consumismo passa distante da sua necessidade, se aloja no seu desejo e se disfarça na sua imagem.

O consumo consciente nos torna mais que consumidores, nos torna senhores do destino (daquilo que compramos): pesquisamos de onde vem uma peça e averiguamos para onde vai ao desapega-la. O destino de uma peça, seja da sua origem ao seu descarte está em nossas mãos (e carteira). 

O consumismo consome nosso planeta, cega nossa alma, endurece nosso coração.
O consumo nos torna leal à nossa conveniência.
A consciência nos torna humanos.

Abra a gaveta, vista-se mais, consuma menos!
Mara Débora

quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

Ah Maturidade!



A maturidade vem chegando, de mansinho, devagarinho. De repente você começa a perceber que as coisas foram mudando, se ajeitando. E a gente vai se conformando, se alinhando e se acomodando. Aquela pressa que antes a gente tinha, não nos afoba mais. Aquela exigência, aquela necessidade... virou contentamento. E aquelas dúvidas? Ah! viraram certezas, sem hesitação.

Ah maturidade! Porque não chegastes antes da nossa galopante idade. Seu eu tivesse as certezas da maturidade e as pernas da jovialidade atravessaria o mundo sem menor questionamento. Seu tivesse o equilíbrio dos pensamentos de hoje e a rapidez do raciocínio de ontem questionaria o mundo com todos argumentos.

Ah maturidade! Porque não sussurrastes em nossos ouvidos: ouças mais, ouças todos, fale menos ou fostes imperativas - quieta-te, não fales! Porque deixastes a juventude tomar as rédeas da vida que um dia seria tua?

Ah maturidade! Porque não trouxestes junto a jovialidade da pele, o frescor do sorriso, o brilho do olhar?

Ah maturidade! Porque chegastes tão tarde?

Questionei a jovialidade. Não houve resposta. De certo, me abandonou.

Encarei a maturidade. Encarei-a com toda minha alma. Abri meus olhos, meus ouvidos, cerrei minha boca, calei meus pensamentos, inibi meus sentimentos. Ergueram-se os instintos. Os mesmos que caminharam comigo por toda minha jornada. Em cada momento de angustia, em cada dúvida dividida, em cada sentimento dilacerado. Era ela, a maturidade transvestida de instinto. Ela norteou minha juventude, meu amadurecimento, meu ser.

Não houve um passo que eu desse, que ela não estivesse presente. Formando meus pensamentos, criando meus argumentos. De certo, ouvi alguns, outros, dilui. No mar da juventude, me ancorou, me aportou.

Velejo agora em um mar de novas incertezas. Abro as velas, aproo o rumo, me entrego ao vento. Meu norte, meu destino, a maturidade é meu leme.

Texto Mara Débora


segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Caminhos, atalhos e dúvidas


A vida é cheia caminhos. Mas muito mais, são os atalhos que nos são apresentados. E como saber se devemos pegá-los ou não. Como saber se nos levarão ou não direto para o final da nossa caminhada. E será que queremos mesmo ir para o final da nossa caminhada?

Em uma viagem, o caminho, do início ao fim, já é a própria viagem. Observar cada ponto, cada parada. Capturar cada instante, aproveitar cada olhar, olhar intensamente para o momento.

Não seria o mesmo para os caminhos da nossa vida. Porque então pegar um atalho. Porque desejamos tanto chegar lá. Nem ao menos sabemos onde é lá. Sim, temos que ter um "lá" para chamar de nosso e querer alcançar. No entanto, quando chegamos, olhamos para trás e nos fazemos a seguinte pergunta: O que eu fiz até chegar aqui? Valeu a pena? Como será daqui adiante?

A vida é assim, caminhos, atalhos e dúvidas. Precisamos, a todo tempo, definir o que fazer, seguir no caminho ou buscar um atalho. E, mesmo em dúvida, seguir. A dúvida sim, é sempre nossa velha companheira. "E se tivesse escolhido outro caminho?" "E se tivesse encurtado este caminho?" "E se?". Depois de chegar, não há como voltar atrás. Podemos sim, continuar, por outro caminho.

E o atalho?  Atalhar pode significar ascender a experiência, pernear um sofrimento, transpor o conhecimento. Será que, ao chegar mais rápido, ou pular uma etapa, ou encurtar o caminho conseguiremos chegar por inteiros, plenos? Contudo, somente saberemos ao chegar, e talvez precisaremos voltar ao início e começar, de novo, o caminho.

Mas temos mesmo que escolher? Não podemos só seguir? Deixar que o vento nos empurre, e sussurre "Váaaaaaa... váaaaaa". Correr para molhar nossos pés e seguir o caminho indicado pelo barulho das águas: "É por ali... por ali...". Adentrar pelas matas que se curvam e abrem passagens com seus galhos vozeando "Bem vindo... bem vindo".

Ah! O caminho dos caminhantes. A vida vivida nos convida! Porque cerrei meus ouvidos, fechei meus olhos e emudeci minhas palavras? Muitos caminhos se abriram, mas só um consegui seguir: o caminho da minha vida.

Sigo ainda em dúvida. Onde meu caminho vai dar, eu não sei, mas sigo contemplando e contemplada, enobrecida e encantada. Aprendendo e ensinando a caminhar e amar, não o caminho escolhido, mas cada passo dirigido.

Para quem já tem seu destino de chegada, se alegra ao final da jornada. Enquanto eu, sem destino, alegro a minha caminhada.

Texto Mara Débora.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Medo da vida


2017 "Estou com medo da vida"

Esta foi uma das primeiras frases de impacto que ouvi em 2017 - "Estou com medo da vida".

Estamos temendo mais a vida do que a morte. Como pode isto? Era tão simples viver... dormir, acordar, respirar, caminhar, alimentar, relacionar, retornar para casa. Pelo menos, no meu tempo era assim.

Hoje não conseguimos dormir pensando em tantas coisas para pagar, apegar e não desfrutar. Sonhamos com o que não temos e temos o que não sonhamos. Passamos parte da noite acordados seguindo o sonho dos outros. Passamos parte da noite observando e sendo observados. Assistindo a escuridão de nossa própria vida. A vida escureceu.

Acordar passou de sinônimo de despertar de um sonho para desencantar de seus sonhos. "Acorda para a vida." "Acorda menina, ou você é isto ou aquilo." "Para de sonhar e vai à luta." "Alguém do outro lado está acordada enquanto está aqui sonhando." Temos medo de abrir os olhos e a vida ter se tornado um lugar hoje pior que ontem. A vida se tornou um pesadelo.

Respiramos fundo e o que era para ser um alívio se torna um sufoco. Respiramos um ar poluído (vide a China com a invasão da poluição) ou simplesmente perdemos a respiração diante de tantos acontecimentos inimagináveis. Pessoas matando porque pensam diferente. A globalização era para ser diferente, e por ser diferente, em vez de unir, nos separou, nos distanciou e preencheu esta distância com o ódio. Pensar diferente nos tornou pior e não apenas diferente, como era para ser. Somos livres para escrever o que pensamos e somos presos justamente porque possuímos esta liberdade. Inspiramos a liberdade e expiramos o ódio!  A vida se tornou irrespirável.

Caminhamos sem saber onde e se chegaremos. Vamos à tantos lugares, cruzamos fronteiras, voamos sobre os oceanos, mas esquecemos caminhar por nossa própria vida. Caminhamos sem direção ou, na direção imposta pelos mais fortes. Somos livres para caminhar, temos direito de caminhar, mas não sabemos se vamos voltar. Muitos caminhos proibidos, muitas grades nas portas. Muito nem mesmo dão o primeiro passo. Caminhar que era sinônimo de ir, se tornou a antítese de voltar.

O alimento virou o veneno nosso de cada dia. Hoje, não só as indústrias nos envenenam com suas comidas práticas e rápidas, como os agricultores nos alimentam com seus agrotóxicos em busca de produtos maiores e mais bonitos, sem insetos. Os insetos sim, não são tolos de comerem o veneno, só comem o que é bom. "Se tem bichinho é porque é bom", já dizia minha mãe.

Relacionar. Eta palavrinha complicada, ontem e hoje. Um exercício profundo e eterno de viver, conviver com você mesmo e com os outros. Existe pessoas que não se aceitam, se mutilam e quando não se aguentam mais, mutilam o outro. Seja com agressões, sejam ferindo com palavras. Palavras. Nunca surgiu tantas palavras como em 2016. Trans isso, trans aquilo. Homo isso, homo aquilo. Femi isto, femi aquilo. Machismo continua, o mesmo, infelizmente.

Porque não podemos apenas ser. Ser o que quisermos, da forma que quisermos. DESDE QUE, (assim mesmo gritante, pulsante) não invada, restrinja, iniba, constranja, anule, agrida o outro. Eu penso assim, desculpe se sou diferente.

Relacionar é olhar, olho no olho. Mas nem sabemos mais a cor dos olhos de quem convive conosco (by the way o meu é verde, escuro, bem escuro).  Se olha para o mundo virtual mas se ignora o presencial. Ouvimos a voz cibernética e silenciamos a nossa própria. Preferimos curtir, amar, ficar triste, indignar com o outro, do outro lado da tela, mas não esboçamos nenhum sentimento para que está exatamente na nossa frente.

Olhar, falar, se comunicar, se respeitar. É pedir muito? Para alguns sim, mas para outros tão simples. Relacionar virou uma conquista. E para quem se relaciona a vida fica mais viva, mais alegre, o caminho mais aprumado, o caráter mais digno (diria incorruptível). Ir com a enorme vontade de voltar e, por mais triste que pareça, ter medo da morte e não da vida.

Que 2017 não tenhamos medo, tenhamos vida!


(errata: meus olhos não são verdes, mas pode olhar bem de pertinho, para tentar descobrir qual é a cor.)
Texto Mara Débora
Imagem: http://wallpaper-gallery.net/wallpapers/life-pictures.html