terça-feira, 8 de agosto de 2017

Moda Abolicionista - Reflexão sobre o prazer!

foto internet 

Quando nos tornamos adultos passamos a ter direito a usar coisas que antes não podíamos. Quantas vezes ouvi: Isso é de adulto, quando ficar mais velha pode usar! Quis tanto envelhecer nestes momentos! 

E, então, chegou o momento e imediatamente eu me coloquei a usar tudo aquilo que era "proibido para menores": ostentei sutiã, vestido justo, saia curta, salto alto. Passei esmalte, maquiagem, batom vermelho. Cortei, alisei, pintei os cabelos. E, sem muito pensar, entrei na onda de "tenho que ter" tal roupa, sapato, sandália, bolsa. Foi assim que entrei na roda do padrão a seguir. E como foi difícil sair desta roda (não tenho certeza se saí totalmente). Quantas roupas usei somente porque "está usando". Quantas peças comprei só porque "está na moda". Quantas besteiras fiz só para seguir padrões!

Hoje, vejo como fui escrava da moda! Foram tantas agressões à mim mesma: o cabelo liso, os pelos do corpo descoloridos, as pernas, axilas e virilhas depiladas, o corpo magro, a cor bronzeada, a roupa do momento. Algumas por prazer, outras imposição, outras insipiência. Presa por desconhecimento. Presa por um nó premido e adornado com um lindo laço. Entretanto, pouco a pouco, o fui desatando, me libertando.

Mas a libertação é lenta! Demora o tempo da maturidade. Lapidamos nossos questionamentos, costuramos nossos lamentos, priorizamos nossa essência. Pensamentos maturados, pois damos ao tempo, tempo para amadurecer. Todavia, nos permitimos a meninez.

A libertação é eterna. Para um elo que se abre há outro que se fecha. Ao nos soltar de um hábito, nos prendemos a outro. Ao deixar de seguir um padrão, adotamos outro. Ao não seguir a moda, ditamos a nossa própria moda.

O arbítrio de olhar para si, soltar as amarras, amar a cara lavada não é fácil. Não é fácil se enxergar em um espelho que reflete a sociedade ditadora. Não é fácil caminhar sobre o salto da vaidade, respirar sob a armadura talhada em cada dobra. 

Assim é a moda - aperta, machuca, fere, contudo enfeita, enlaça, encanta, regala, enquanto disfarça, dissimula, simula o que pensa, o que busca, o que pretende um dia ser.

Na moda tornamo-nos no que não somos, parecemos o que queremos, escondemos o que dispomos, mostramos o que não temos e idolatramos o que não podemos.

No entanto a moda possibilita, encanta, investe. Veste, reverte, aplica. A moda lança, dissemina, emplaca. A moda grita, a moda cala! O que tá na moda é não seguir a moda. Mesmo não querendo, a moda dita a moda.

E quão libertador é descobrir que não faz a menor diferença se renunciarmos à moda, aos hábitos, aos padrões! Porém quão desolador é descobrir que, de alguns, somos (sou) prisioneiras.

Não obstante, alguns nos dão prazer e, só por estes, devemos nos render, nos tornar prisioneiras. Afinal, o prazer também aprisiona.

Qual prazer te aprisiona?
Depilar, maquiar, pintar, alisar, massagear, clarear, bronzear, malhar?

Texto sobre Moda Abolicionista - Reflexão sobre o prazer!
por Mara Débora


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